Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã

Com tanta paganização de nossos costumes, é preciso saber celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã. Em uma sociedade que realmente viva a fé isso se torna mais fácil. Na nossa, com resquícios de cristianismo, ainda um mais ou menos sólido fundamento católico, mas com pouca prática genuína de uma fé verdadeira, nem tanto...

Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã



Claro está que o Natal, em muitos lugares, perde a clara referência a Cristo, que se torna mais um dos elementos evocados na época. Sim, Cristo não é expulso de todas as festas natalinas. Ao menos não ainda. Mas ele não é o centro. Não é o principal. É um convidado, mais um. Um figurante, por vezes. Alguém importante, em outras. Até se reza em família antes da ceia. Ou se lê a Bíblia. E só. No máximo, um convidado com certa distinção.

Isso não basta. De nada adianta termos o lar mais feliz do mundo nesta terra se não levarmos os que nele habitam para depois morar no céu. A família edificada em certas virtudes humanas, mas que não tem Cristo morando no lar, pode ter todas as alegrias, todas as conquistas, porém isso se perde. Não apenas os bens materiais passam, senão também as alegrias não edificadas em Cristo.

Infelizmente, não são poucos os católicos – e não falamos de católicos nominais, mas de “gente de paróquia” e “de movimentos” – que levam Cristo ao seu lar, mas Ele não ocupa o centro. Crêem em Deus, vão à Igreja, são sinceros em sua pouca piedade, procuram fazer isso e aquilo, e até praticam uma forma ou outra de vida de oração, querem, mesmo com reservas, fazer a vontade de Deus. Ocorre que não se empenham em procurá-la e, no conflito entre os direitos de Deus e seus próprios caprichos ou opiniões, dão ganho de causa a favor dos últimos. Cristo mora em sua casa, mas não é o centro, é um hóspede, mas não o Rei, é um amigo, não o Senhor.

Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã


Manter Cristo no centro do lar, e não apenas como “mais um”, equivale a viver sob seu senhorio, a priorizar sua vontade sobre as nossas, a adotar sempre os critérios de Cristo e não os do mundo, “o pensamento de Cristo” (I Co 2,16) e não o pensamento politicamente correto ou da moda, e deixar que os seus mandamentos e o ensino da Igreja que Ele fundou e nos deixou como meio de salvação permeiem a nossa vida de modo integral. É dar a Jesus o controle de nossa vida inteira, oferecendo-lhe nossos pensamentos, palavras e obras, e esforçando-nos por nos transformar pela renovação do nosso espírito (cf. Rm 12,2).

Alguns, com a melhor das intenções, chegam a colocar suas tradições religiosas, mesmo católicas, no centro do lar. Faz-se algo porque sim, porque sempre se fez. O centro do lar, então, é sua própria vontade, é o ego. Quando Cristo é o centro, tudo gira em torno dele. Nem os filhos são os mais importantes da casa, muito menos os pais. As tradições e devoções, então, são conseqüência de uma vida inteiramente dedicada ao Senhor e sob Seu império.

A vida da nossa família não gira em torno dos filhos nem de nós mesmos. Gira em torno de Cristo, pelas mãos piedosas de Nossa Senhora! E isso está simbolizado pelos lugares de destaque em que figuram o crucifixo, a imagem da Virgem e a Sagrada Escritura em nossa casa.

Quem mantém Cristo como centro do seu lar é aquele que buscar fazer como São Paulo, e dizer a todos: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20)

Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã


Convidar Cristo para estar no lar como um hóspede é insuficiente. Convidar Cristo para conosco celebrar o Natal como mais uma das tantas pessoas que se reúne à mesa é pouco.

Por certo que para fugir do tão já condenado materialismo nessa época de festas, é comum contrapor com o dizer de que o Natal é família. Isso pode ter a melhor das intenções, mas ainda é incompleto. Festas de aniversário são família. Formaturas são família. Viagens são família. Férias são família. Natal é mais do que isso. Não é simples alegria, bons sentimentos, pensar no outro. Tudo isso pode existir de modo fortíssimo independentemente do Natal.

Se Natal não é comprar presentes, Natal também não é família. O que não significa que não se tenha que valorizar a família no Natal, como, aliás, também não significa que não se devam comprar presentes.

Natal sem Cristo não é Natal. Natal só com uma paz genérica, famílias felizes, sinos tocando, Papai Noel, farta ceia, é bom, mas não é suficiente. Aniversário sem o Aniversariante - o mesmo que mais tarde Morreu numa Cruz pelos nossos PECADOS e fundou uma IGREJA - é uma idiotice.

Natal é uma festa CRISTÃ. Não é possível celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã, ou seja, de modo verdadeiro, sem colocar NO CENTRO DA FESTA o seu sentido. Não um Jesus hippie e descolado, um Jesus amiguinho e politicamente correto. Natal não celebra esse Jesus tão ao gosto dos modernos sem compromisso com nada. Natal é a festa do Nascimento de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, o Filho de Deus feito homem que, nascendo menino do ventre da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, cresceu, pregou, fez milagres, morreu por nós na cruz para a nossa salvação e perdão dos nossos pecados, fundou Sua ÚNICA Igreja, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e um dia virá para julgar os vivos e os mortos em um reino que não terá fim.

Falar em Natal importa em falar em conversão, em fé católica, em arrependimento dos pecados, em vida sob o senhorio de Cristo, em adorar o Menino Deus que, longe de ser apenas um bebê de bochechas rosadas, é o Rei do Universo!

Natal é família, se falarmos em família católica, REALMENTE CATÓLICA.

Ou Cristo é o centro do nosso lar e do nosso Natal, ou temos um lar não completamente cristão e um falso Natal. 

Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã


Para ajudar a como celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã, damos as dicas abaixo.

1. Viver bem o Advento


Inevitável. Mesmo nos calendários de ritos católicos que não contemplam um período especial como o Advento, há alguma preparação por parte dos fiéis conforme a solenidade do Natal se aproxima, seja com jejuns, seja com a tomada de consciência pela proximidade da festa acompanhada de orações. 

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No Ocidente, o tempo do Advento é tão marcado - e isso que nem estamos falando do calendário litúrgico do rito ambrosiano, usado em Milão, com seis Domingos de Advento e não somente quatro - que nas confissões protestantes mais históricas, como o luteranismo, ele é esperado o ano todo. Na Alemanha, o Natal e o Advento estão muito impregnados na cultura local, e isso foi trazido pelos imigrantes, quer luteranos, quer católicos. Em qualquer igrejinha luterana, mesmo no Brasil, o Advento tem uma grandiosa importância, com corais ensaiando com afinco, piedosas devoções próprias da época, enfeite dos templos.

O Advento nos prepara pelas leituras bíblicas propostas pelo lecionário, pelo caráter penitencial do tempo, pelo roxo das vestes litúrgicas dos ministros e do altar, pelas antífonas do Ó, pelas orações do Missal e do Breviário, pela novena que faz cessar a preparação remota e inaugura a próxima, pela súbita alegria do Domingo Gaudete e seu róseo, pelos enfeites da casa.

É período de rezar mais com a família, de montar o pinheirinho com suas bolas e luzes, de armar o presépio, de fazer as devoções práticas do Calendário do Advento e da Árvore de Jessé (a nossa é do atelier Feltro do Céu).

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2. Enfeitar a casa


Somos simbólicos. A Igreja sabe disso e incentiva comportamentos visuais, como as esculturas, os ícones, os vitrais, os paramentos, o incenso, a beleza expressa em tantas obras de arte, o canto gregoriano, a polifonia sacra. 

Nossos lares também precisam ser cheios de símbolos. Temos retratos espalhados pela casa. Decoramos a residência com coisas que nos remetem a aspectos importantes de nossas crenças, de nossos valores, da história de nossas famílias.

Também para o Natal enfeitamos a casa, espalhamos sinais. O pinheirinho, o presépio, a coroa do Advento, a guirlanda na porta, luzes dentro e fora, capacho à porta com detalhes natalinos, velas e castiçais onde não haviam, paninhos com decoração típica... Tudo isso tem lugar quando queremos captar já o clima da festa. Que não fique nisso, contudo. É preciso enfeitar a casa remetendo tudo a Cristo e entendendo tal simbologia como expressão de uma fé genuína!

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3. Centrar o Natal em Cristo


Já falamos nisso, mas não custa termos essa expressão bem presente em nosso intuito, santo por certo, de celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã.

Essa centralidade é objetiva: ceia, enfeites, presentes, Papai Noel, alegria, champanhe, família, tudo deve girar em torno de Cristo, apontar para Ele e d'ele vir. 

Aqui em casa fazemos muita coisa. Cantamos hinos, temos peru, uma mesa farta, bons espumantes bem gelados, olhar os fogos de artifício, trocar presentes, Papai Noel com as crianças, enfeites, todos bem arrumados e elegantes, família em torno da mesa e, se estiver uma bela noite, celebração à volta da piscina. Mas esses detalhes, importantes ou não, giram em torno de Cristo, o que equivale a dizer que o centro de tudo é a Missa. Tudo o mais, inclusive o horário da ceia e da troca de presentes é ajustado após termos a hora de ir à Missa. É ela que importa. É Cristo que importa. Toda a nossa alegria vem de Cristo e só tem sentido junto a Ele.

Jesus Cristo não é um convidado para a nossa noite de Natal. Ele é o principal, o grande homenageado. Aliás, Ele é o anfitrião. Nós é que somos convidados para a Sua festa, na Missa, na igreja, que se estende até nosso lar que antes de ser nosso é d'Ele. A ceia natalina é um símbolo da Ceia que celebra na Missa, tornando presente o sacrifício da Cruz. Comemos panettone, peru, arroz à grega, doces e salgados porque antes nos alimentamos com Seu Corpo e Seu Sangue!

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4. Preparar o cardápio e a mesa e estabelecer o cronograma da Noite de Natal


Deixas as coisas mais ou menos prontas algum tempo antes e preparado um esquema para que não falte nada já uns dias antes é importante para que não nos atrasemos para o que realmente importa. Claro que muita coisa tem que ser feita no dia: preparar a mesa, assar o peru, terminar de aprontar sobremesas, gelar as bebidas. Porém, é preciso de antemão saber, ao menos, qual o cronograma a ser seguido para que a correria exterior não impeça de nos entregarmos à devoção em noite tão santa.

Um plano precisa ser seguido. Talvez não com uma perfeição milimétrica que nos crie uma neurose - e, paradoxalmente, querendo fugir da dissipação exterior pela multiplicação de tarefas ao mesmo tempo, caiamos na dissipação exterior pela preocupação em executá-las exatamente conforme o plano. Tenhamos o plano. Sejamos firmes nele. Porém, também sem stress. Um plano exigente, mas realista.

Ter as roupas separadas, o cardápio montado, os ingredientes comprados e separados, os talheres e a louça escolhidos, saber a hora da Missa, e organizar o que a família fará na ceia (cantará hinos, rezará uma oração, lerá uma passagem bíblica etc).

Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã


5. Celebrar o Natal como uma festa verdadeiramente cristã é comemorar a Noite e o Dia de Natal


Celebre! Festeje! Tome seu espumante! Coma seu peru! 

Não esqueça, todavia, que essa alegria mais profana, que é lícita, deve respirar um ar religioso, deve expressar uma alegria espiritual, o que é alimentado por devoções típicas de Natal a serem feitas na noite e no dia da festa. Recite o breviário, cante belos hinos com as crianças prestando atenção à letra, tenha uma aula especial em casa com as crianças, ainda que breve, de catecismo sobre o Natal, leia um trecho da Sagrada Escritura, especialmente alguma profecia messiânica, antes de jantar, e vá à Missa. Se possível, na noite do dia 24 e no dia 25. Aliás, vá às três Missas de Natal, se puder (Noite, Aurora e Dia) e também à (quase não celebrada) Missa da Véspera.

Alegre-se! Nasceu o Menino!

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Uma parcela do texto acima foi tirado e adaptado de nosso livro FAMÍLIA CATÓLICA, IGREJA DOMÉSTICA. UM GUIA PARA A VIVÊNCIA CRISTÃ NO LAR, publicado pelas Edições Cristo Rei. Adquira o seu exemplar aqui.

Rafael Vitola Brodbeck

2 comentários:

Admin disse...

Rafael, quando a missa é meia-noite, o melhor é fazer o jantar antes ou depois? Isso sempre nos dá muita dúvida

Dr. Rafael Vitola Brodbeck disse...

Impossível responder. Isso varia conforme a conveniência de vocês.

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