"Furtei" da Liana Clara, amiga e mãe de família, de seu ótimo blog Negócios de Família:
Na semana passada falei do entusiasmo com que redescobri, depois de adulta, a magia dessas narrativas. Hoje, comentarei sobre o surgimento delas, da diferença entre Contos de Fadas e Contos Maravilhosos, sua fusão e transformação.
Desde as origens do mundo, o homem sente a presença de poderes maiores do que sua vontade e seu poder pessoal. A ânsia de descobrir, conhecer e harmonizar aquilo que ultrapassa os limites que nele é simplesmente humano, foi sempre expressa de forma significativa através da literatura. Essas narrativas, nascidas entre os povos da Antiguidade, chegaram até nós em forma de lendas, mitos, contos e sagas. Fundidas e transformadas, assumiram um caráter diferente em cada época e em cada lugar.
Conto de Fadas e Conto Maravilhoso
As duas denominações vêm sendo usadas indistintamente para englobar todas as narrativas que fazem parte do acervo da chamada Literatura Infantil Clássica (“Chapeuzinho Vermelho”, “O Pequeno Polegar”, “Os Músicos de Bremen”, “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” etc. ) Os dois grupos são porém, distintos quanto à problemática que gera os contos que os formam.
Os Contos de Fadas têm como fonte geradora uma problemática existencial, isto é, a realização essencial do herói ou da heroína. Aqui, para que o herói alcance sua autorrealização existencial, precisa vencer provas e obstáculos. Ex.: O príncipe encontra a princesa que representa o ideal a ser alcançado. Os Contos de Fadas são de origem celta e são essencialmente idealistas e preocupados com os valores do espírito. Primitivamente eram poemas independentes que chegaram, como tais, até os tempos do Rei Arthur.
Já o eixo gerador dos Contos Maravilhosos se encontra em uma problemática social ou ligada à vida prática e concreta. O desejo de autorrealização do herói está em suas necessidades materiais básicas, isto é, estômago, sexo poder etc. A paixão efêmera está no lugar do amor espiritual, eterno. Estes contos originaram-se das narrativas orientais.
Na Idade Média, todo esse acervo pagão, vindo principalmente dos países nórdicos e das terras do oriente, modifica-se segundo a nova visão do mundo gerada pelo espiritualismo cristão. O Império Romano foi o grande responsável por tal fusão, uma vez que trouxe para o Ocidente toda a magia, a sabedoria e o conhecimento do Oriente, incluindo o conhecimento bíblico dos hebreus e o próprio cristianismo.
Toda essa maravilhosa literatura antiga destinava-se aos adultos e é na passagem da era clássica para a era romântica que ela, já integrada à tradição oral popular, se transforma em literatura para crianças. Estão nessa área as adaptações dos contos das
Mil e Uma Noites, os contos de Perrault (França) , dos Irmãos Grimm (Alemanha), as fábulas de La Fontaine e outros. O início da transformação deu-se concretamente no século XVII, na França, com Charles Perrault.
Nos dias de hoje, essas histórias ganharam belíssimas ilustrações e adaptações das mais variadas; às vezes discutíveis. Quanto à sua importância na educação infantil não há muito que discutir. Falaremos sobre isso na semana que vem.
Agnes G. Milley
Um comentário:
Fico feliz que nossa história seja de agrado geral, pode usar a vontade sempre que quiser.
A Agnes é uma professora de Inglês, húngara de nascimento e de grande cultura, além de nos presentear várias vezes com suas histórias de família nos tempos da guerra.
Todas as sextas feiras temos textos dela no Blog.
Beijos queridos Aline e Rafael.
Liana
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