Mês farroupilha para famílias católicas




















"Como a aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o Vinte de Setembro 
O precursor da liberdade.

Mostremos valor, constância
Nesta ímpia e injusta guerra. 
Sirvam nossas façanhas
De modelo 
A toda a terra
De modelo 
A toda a terra
Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra

Mas não basta pra ser livre
Ser forte aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo."
(Hino Rio-Grandense)


Setembro é importantíssimo para os gaúchos do Rio Grande do Sul. É o mês em que comemoramos os festejos farroupilhas, no intuito de manter acesa a chama do patriotismo sulino a partir da recordação da epopéia de nossos bravos heróis que lutaram na Guerra dos Farrapos.

Os ideais dos farroupilhas eram nobres e muitos nos falam em tempos de Estado forte e quase totalitário como temos hoje. Revoltaram-se não contra o Imperador nem contra a unidade do Brasil. Alguns deles eram até monarquistas. A causa da rebelião foi semelhante ao dos sulistas dos EUA: taxation without representantion. Os riograndenses eram acossados com impostos altíssimos e nada recebiam de volta. Pensavam em um Estado menor, em defesa da economia de mercado e dos princípios financeiros de nossos maiores produtos: pecuária e agricultura. E junto da agropecuária tradicional da então Província de São Pedro, os valores igualmente tradicionais do campo: ênfase nas relações naturais e orgânicas entre patrões e empregados, aqueles como caudilhos ou senhores feudais - no melhor sentido da expressão -, valorização da família e da propriedade, defesa da liberdade, autonomia para gerir os próprios negócios, honra, caráter, culto ao passado.


Uma vez escrevi o seguinte, em inglês, a amigos dixies (sulistas americanos, herdeiros da tradição dos confederados da Guerra Civil), sobre nossa semelhança com eles:

A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma guerra civil entre o Império e o Rio Grande do Sul, o qual tem uma cultura própria, a cultura gaúcha, a mesma que na Argentina e Uruguai. O Rio Grande tem uma identidade própria, muito semelhante ao do sul dos Estados Unidos, e totalmente diferente do resto do Brasil. Nós, no Rio Grande do Sul, falar português mas com sotaque espanhol e palavras em espanhol, nossas danças, música, comida e roupas são argentino / uruguaio. Aqui, temos temperaturas frio e da neve, ao contrário do Brasil. Nós, no Rio Grande do Sul, adoramos a nossa bandeira - que é a mesma usada na Revolução Farroupilha - talvez até mais do que a bandeira brasileira, assim como as dixies fazer com a sua bandeira confederada.

Até hoje, comemoramos a Revolução com festas, desfiles a cavalo, trajes típicos, honrando os nossos generais e os heróis do Rio Grande, a cada ano. E reencenamos batalhas em nossos sítios históricos. Rio Grande do Sul e sul dos Estados Unidos são gêmeos.

O mesmo ocorre na Argentina e no Uruguai, ao celebrar Artigas, Urquiza, San Martin, Mitre, em suas guerras intestinas e na independência das províncias do Prata.

Havia várias correntes de pensamento na Revolução. E a de Garibaldi, embora importante, era uma minoria. É uma "legenda negra" o ideal maçônico da Revolução Farroupilha. Os maçons estavam também no Império (lembre-se D. Vital?)... E havia católicos na Farroupilha. Sim, o Império não era um tirano "per se", mas com o centralismo (com o iluminista D. Feijó na Regência) e o anti-federalismo do Segundo Império, com muitos impostos, havia se tornado um.

Havia maçons entre os farroupilhas, como os havia no Império. Grande parte dos líderes farroupilhas (como o principal, o Gen Bento Gonçalves) eram conservadores e ao menos simpatizantes da monarquia (Bento Gonçalves apenas TOLEROU a independência feita pelo Gen. Netto na sua AUSÊNCIA - eis que estava preso - e mesmo assim para chamar a atenção do Império contra os altos impostos).



O inimigo dos farroupilhas não era o Imperador Pedro II, mas Feijó e os pseudo-conservadores e centralistas. O objetivo do Revolução não foi necessariamente a implantação da república, mas do federalismo. O epíteto de "liberal" em Farroupilha não foi ao estilo maçônico, necessariamente, mas contra o centralismo e a favor do federalismo - à semelhança dos "federales", herdeiros do uruguaio Artigas, nas guerras intestinas argentinas contra os unitários.

Bento Gonçalves, em 1835, disse respeitar o juramento que tinha feito ao código sagrado, ao trono e à manutenção da integridade constitucional do Império. Em princípio, portanto, a revolta não era um caráter separatista, mas se dirigia contra o Presidente da Província do Rio Grande e contra o Comandante das Armas.

Os farroupilhas queriam paz e estavam prontos para se juntar ao Exército Imperial, no qual lutaram bravamente na Guerra do Paraguai. Os herdeiros dos farroupilhas foram os maragatos na Revolução Federalista de 1895 contra a República maçônica e positivista. E alguns dos maragatos eram pró-monarquia e queriam restaurar o Império. O federalismo do maragatos foi o mesmo dos farroupilhas.



De fato, Bento Gonçalves foi um dos entusiastas do Tratado do Ponche Verde, que fez a paz com o Império. A separação nunca foi o objetivo da maioria dos farroupilhas, mas, como escrevi, a luta contra a Regência, o centralismo e a "taxation with no representation". Eu sou um monarquista e também um farroupilha. Recusando, de fato, a ajuda de argentinos e uruguaios, o general David Canabarro, herói farrapo e amigo de Bento Gonçalves, disse: "Com o sangue do primeiro castelhano a cruzar a fronteira, assinaremos a paz com o Império." A luta foi pelo federalismo, não necessariamente contra o Brasil. Aliás, anos mais tarde, os mais bravos soldados do Brasil na guerra contra o Paraguai, foram farroupilhas antigos ou os seus filhos.

 Gen. Bento Gonçalves da Silva, chefe dos farroupilhas,
um dos homenageados por nós ao batizar nosso filho de Bento

As duas novas repúblicas da Guerra dos Farrapos foram transitórias, para forçar o Império a rever os impostos e implantar o federalismo real (como os maragatos, mais tarde). Mas, sim, havia infiltração maçônica, mas os "pedreiros-livres" estavam também entre os militares do Império, com yankees, com os confederados etc.

Outras informações: a Constituição da República Riograndense, inaugurada pela Revolução Farroupilha, previa a Igreja Católica Romana como a religião oficial do Estado; os principais eventos foram celebrados nas igrejas paroquiais, onde eles cantaram o Te Deum; Bento Gonçalves utilizou as lojas maçônicas como um lugar de conspiração para o seu segredo, mas ele mesmo não era maçom proeminente, nem tinha comunhão com os ideais carbonários - como Garibaldi tinha; Bento Gonçalves mandava celebrar a Missa de Requiem para as almas dos farroupilhas e INIMIGOS IMPERIAIS mortos em campos de combate, e venerava os sacerdotes, não permitindo, além disso, que as igrejas protestantes tinham aspecto exterior da igreja; havia capelães oficiais com o Exército dos farrapos; a maioria do clero católico apoiou a Revolução; Pe. Chagas foi declarado como vigário apostólico por Bento Gonçalves, invocando o direito do Padroado, e foi solicitada a confirmação do Papa, que não a deu porque a consumação da separação não foi finalizada.

É uma prova substancial de que os farroupilhas queriam permanecer católicos, não-maçônicos (um pequeno grupo, liderato por Garibaldi era maçônico e anticlerical). Após a pacificação do Rio Grande, o Império e a Santa Sé confirmaram o desejo dos farroupilhas em ter uma diocese, e a criou em Porto Alegre; muitos sacerdotes farroupilhas, como padres Fidêncio, Lobato e Caldas, foram confirmados, depois da paz, como sacerdotes no RS, e distinguiram-se como construtores de igrejas e apóstolos vigorosos, mesmo durante a guerra.

Um padre farroupilha, Pe. Lobato foi, após a guerra, secretário do bispo.

Um outro sacerdote farroupilha, Pe. Hildebrando, pároco de Bagé, morreu com a odor de santidade.


Aliás, os maragatos de 1893 e 1923, herdeiros maiores dos farroupilhas de 1835, tiveram seus mártires pela fé católica. Os beatos Manoel e Adílio, morreram, no contexto da Revolução de 1923 (continuação lógica da de 1893), pelas mãos dos positivistas chimangos do Governador Borges de Medeiros (o qual, depois, nos anos 30, reconciliado com a Igreja, aliás, receberá seu apoio em eleições contra cripto-socialistas).


"A separação era um meio e não foi por isso que o Rio Grande do Sul foi menos brasileiro que antes." (SOUZA, J.C. A Revolução Farroupilha: sentido e espírito. Porto Alegre: Sulina, 2.ed., 1972, p.68)

"... os revolucionários farroupilhas eram brasileiros em primeiro lugar." (LAYTANO, Dante. A História da República Rio-Grandense. Porto Alegre: Sulina, 2. ed., 1983, p 83)

"O que fizemos não foi uma rebelião e sim estamos fazendo uma resistência legítima. (...) Nem eu nem os rio-grandenses desejamos nos desligar absolutamente do Brasil. A mesma religião, a mesma linguagem, os mesmos usos, os mesmos costumes, vínculos de sangue, laços de amizade, e, finalmente, as mais ternas simpatias inclinam o nosso coração a favor de um povo que consideramos irmão. Gozando de uma absoluta independência no regime dos nossos negócios internos e peculiares, não duvidaríamos quanto ao mais submeter-nos a um Governo Geral que velasse sobre os interesses da União. (...) " (Gen. Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha e Presidente da República Riograndense, em carta a Gaspar Menna Berreto, representante do Governo Imperial)

Outros pontos da Constituição da República Riograndense que são absolutamente coerentes com o ensino social da Igreja: defesa da propriedade e da liberdade (entendida à moda tomista e não necessariamente liberal, como na Constituição do Império de 1824), afirmação do indivíduo frente ao Estado, oficialização da fé católica como religião de Estado, função social da propriedade (ao extinguir o direito absoluto da propriedade, e, sendo menos radical em sua interpretação do que a CF de 1988, afastou-se do tom socialista).

É bem verdade, entretanto, que idéias advindas do liberalismo maçônico condenado pela Igreja estavam presentes tanto na Revolução quanto na Constituição: o republicanismo não como forma de governo, mas como antítese absoluta a qualquer sistema monárquico, o não reconhecimento dos títulos de nobreza, a proibição das corporações de ofício.

Sim, o anticlerical Garibaldi, um dos líderes da Revolução, era um bandoleiro, mas foi contratado com uma missão específica: providenciar uma Armada ao Rio Grande.

Que este mês seja bem comemorado pelas famílias católicas do Rio Grande, sem medo de que honrar o Decênio Heróico e a luta farroupilha seja uma traição aos valores da Igreja.

Aqui em casa, já iniciamos com uma rodada de mate (chimarrão) infantil, com a Maria Antônia e o Bento, que possuem sua própria cuia. A tradicional beberagem da pampa como um grande símbolo de nossa cultura, celebrada em Setembro, em preparação ao grande dia 20!




Rafael Vitola Brodbeck

3 comentários:

Unknown disse...

Amo a cultura do Rio Grande do Sul e setembro é um mês de comemorações na minha família também.
Obrigada por dividir conosco esse apostolado!

David A. Conceição disse...

Por influencia da minissérie global "A casa das sete mulheres" eu passei a apreciar muito a história e a cultura de Rio Grande. Agora só falta experimentar o chimarrão.

Anônimo disse...

David, enfim a cultura de massa da globo serviu pra alguma coisa.

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