Visita à Capilha, vila do Taim, RS

Santa Vitória do Palmar, onde moramos, fez parte dos chamados Campos Neutrais, estabelecidos em 1777, pelo Tratado de Santo Ildefonso, entre Espanha e Portugal. O mesmo tratado que trocou a portuguesa Colônia do Sacramento, no hoje Uruguai, pelos na época espanhóis Sete Povos das Missões (as reduções jesuíticas entre os guaranis), que hoje fazem parte do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina - perto de onde já morei, Itaqui. Os povos missioneiros foram os primeiros aldeamentos populacionais do Rio Grande do Sul. 

Voltemos aos Campos Neutrais. A expressão significa que este território era terra de ninguém, em sentido literal. 

Antes do Tratado, havia incursões espanholas e portuguesas na região. O próprio território, hoje pertecente ao Uruguai, onde se localiza o famoso Forte de Santa Teresa, poucos quilômetros distante de Santa Vitória em direção ao sul, era português. O forte mesmo era português, depois passou à Espanha e ao Uruguai quando este conquistou a independência.

Com a organização da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul no Brasil Colônia, sesmarias foram concedidas aos portugueses nos Campos Neutrais, principalmente na região da Vila Anselmi, território do hoje município de Santa Vitória do Palmar, e do Taim - parte em Santa Vitória, parte no município de Rio Grande, onde se originou a Capitania, aliás. Portugal, portanto, desrespeitou o Tratado e assumiu o controle dos que deveriam ser Campos Neutrais.

Nos primeiros anos do séc. XVIII, 1700 e pouco, antes, portanto, do Tratado de Santo Ildefonso, como a região ainda estava em disputa, os espanhóis andaram por aqui e criaram uma pequena vila com uma capela na parte do Taim que fica no município de Rio Grande. O Taim é um banhado que se transformou em uma estação ecológica federal devido à sua rica vida vegetal e animal, e pelo qual corta a rodovia que liga Santa Vitória ao resto do Brasil, rota quase obrigatória para o chique balneário de Punta del Este, no Uruguai. Nessa localidade do Taim, antes de entrar na estação ecológica, há um povoamento rural, ao redor da capela erguida no séc. XVIII. Chamam essa vila do Taim justamente de Capilha, que deriva do espanhol "Capilla", ou seja, "capela" em português, dando a entender que ela era realmente o ponto de referência da região.


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A vila Capilha tem dois restaurantes, um deles com comida caseira, e uma linda praia na Lagoa Mirim. A capela, a "capilla" propriamente dita, entretanto, está abandonada. Há projetos entravados pela burocracia estatal para revitalizar o templo. Sinceramente, não sei como andam as coisas na Diocese de Rio Grande quanto a esse assunto, mas seria magnífico termos Missas bem celebradas, especialmente naquele rito em que ela foi fundada, o rito romano clássico. Como está abandonada há décadas, a "capilla" nem chegou a conhecer a reforma de Paulo VI, de modo que se nela fossem celebradas somente Missas ditas tridentinas, seria uma continuidade incrível e um símbolo poderoso da resistência de nossa tradição litúrgica romana.

Moramos desde agosto de 2010 em Santa Vitória e passamos perto da capela inúmeras vezes, em nossas viagens a Pelotas, Porto Alegre e Piratini, pois é preciso cruzar o Taim, como disse. Nunca a visitamos, entretanto.

Agora, voltando de Piratini e Pelotas, onde passamos o Natal, resolvi - pois vim solito, deixando a família na estância - lá parar, conhecer e rezar a Nossa Senhora da Conceição, titular daquela igrejinha, encomendando a ela minha mulher e nossos filhos.

Seguem fotos abaixo.








Rafael Vitola Brodbeck

4 comentários:

Glecio Rodrigues disse...

Estivemos na Capilla em 2013 com minha esposa, que é arquiteta, para elaborar uma proposta para a restauração desse conjunto histórico e cultural de nossa região fronteiriça. Nunca mais tivemos informação de quem ganhou o processo. Mas espero que a empresa vencedora bem como quem irá contratar, que façam um trabalho sério pois esse templo é um monumento vivo das disputas de nosso território entre espanhóis e portugueses.

marco antonio disse...

Então ! Primeiro parabenizar o blog. Os esclarecimentos sobre a Capilha me satisfizeram plenamente quando a curiosidade solicitou-me. Tenho 54 anos e, fazia certamente, mais de 40 anos que no local não ia. Confesso ter ficado surpreso com o que vi - lugar lindo, tranquilo e, transbordando serenidade e paz, como se não bastasse, temos ainda uma "Capilla". Abandonada, destratada,enfrentando corajosamente os séculos, mas humildemente trazendo consigo muita história. História que deve ser narrada,escrita, enfim, passada aos que não a conhecem. Parabéns Rafael! Deverei com certeza frequentar mais o local. Espero que o projeto de restauração se confirme e, caso isso não se realize, iniciativas sociais se façam , restaurando a história e, porquê não, potencializando o local de forma racional e civilizada, proporcionando a melhoria de vida dos que lá vivem.

Bayard Fonseca disse...

Pois é... Eu estive passeando pela Extremadura do País neste janeiro de 2017, justamente pra conhecer o garrão do Rio Grande do Sul (e do Brasil).
No entanto, somente depois, já de volta pra Guaíba, vim a saber desta preciosidade histórica e cultural, é que está se deteriorando pelo Tempo, mas principalmente pelo abandono e descaso de quem (IPHAE e IPHAN) deveria preservar nossos monumentos, como esta fantástica CAPILHA.

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PARABENS AO BLOGUEIRO E A GENTE QUE RESGATOU UM POUCO DESTA HISTORIA AO POSTAR FOTOS E EXPOR FLASHES DA HISTÓRIA ATRAVÉS DOS TEXTOS.

Claudiomar Farias disse...

Acampamos em 1985 em frente a essa Capela... Havia um eletricista no grupo que energizou as 5 barracas em que estávamos a partir de um poste próximo... Tínhamos até freezer no acampamento que improvisamos! Lembro que o Barranco ao lado da Capela estava sendo açoreado, desbarrancando, e o pessoal da Vila temia que nos próximos 3 ou 4 anos, a Igrejinha desmoronasse... Atrás dessa Capela encontramos túmulos rente ao chão, parece do um “forno” de tijolos, com várias ossadas dentro... Lembro que batemos as redes na lagoa e pegamos várias “traíras” que assamos e nos deliciamos... Defronte a Capela havia um “poço” falso, com um espaço subterrâneo parecendo uma “sala” com paredes de tijolos, que, segundo nos disseram, era utilizado para “esconder” as mulheres e crianças quando se sentiam em perigo... Se essa informação era verdadeira, não sei, mas o poço era estranho, mesmo! Ah... Segundo disseram, essas terras onde se localiza essa Vila, faziam parte da tal “herança” do Tenente Faustino Correa, noticiada até no programa do Fantástico na Rede Globo! Enfim, tenho lembranças ótimas desse local, pois nos divertimos muito nos quatro (4) dias que acampamos com nossas famílias! Quem nos levou para esse local, de caminhão, e ficou junto conosco lá, foi um rapaz chamado JEFERSON, cuja família era proprietária de um “frigorífico” na localidade da “Quinta” em Rio Grande, amigo do meu Primo, que, infelizmente, perdi contato! Sou morador de IMBÉ, no Litoral Norte, ao lado de Tramandaí, e meu email é “cgdefarias@gmail.com”... Abraços em que ler esse meu depoimento! Claudiomar Gautério de Farias

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