Os maridos que queremos para nossas filhas


Por Gustavo Costa*

Sem dinheiro e com a firme convicção de realizar o impossível, Ernest Shackleton começa pelo óbvio: arrumar uma tripulação para, junto com ele e com um barco antigo, serem os primeiros homens a pisar no ponto mais ao sul do planeta. O anúncio, publicado nos jornais de Londres, em 1900, começava com uma chamada forte: “Procuro homens para viagem arriscada. Salário baixo, frio congelante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso”. Anos depois, coroado pela glória dos heróis, o capitão da expedição Nimrod comentou “...a julgar pelo volume de cartas recebidas, parecia que todos os homens ingleses estavam dispostos a me acompanhar”.

Durante a infância de muitos com mais de 30 anos, aprendíamos claramente a diferença entre o homem e o menino. Mas o que é um homem em relação a um menino? O entendimento tradicional era de que o homem é quem assume uma responsabilidade sobre os outros – sobre a sua família, seu emprego, sobre seu país e, claro, sobre si mesmo. Ser homem era ser guiado por ideais e valores superiores a si mesmo. Ele conduziria sua vida com dignidade. E ele seria rijo, forte, constante.


Quando eu era garoto, na década de 1980, sem que ninguém expressamente precisasse me definir, eu já sabia o que um homem deveria ser. E eu sabia o que os outros, para não mencionar os meus pais, esperavam de mim como homem. Não precisava ser dito explicitamente que eu teria que ganhar a vida, sustentar-me o mais rapidamente possível e sustentar a família depois disso. Nessa época, chamávamos nossos pais de “pai”, aos padres de “padre”, e aos médicos de “doutor”. Éramos corrigidos quando, por algum motivo ou distração, um destes era chamado pelo primeiro nome, pura e simplesmente.

Porém, em algum ponto da década de 1990, os ideais de masculinidade e feminilidade foram amplamente confundidos. O feminismo, como movimento, declarou guerra aos conceitos mais básicos de feminilidade e masculinidade. E, para grande parte da população, foi vitorioso. Com efeito, graças ao conceito feminista de que macho e fêmea são essencialmente os mesmos, um número incontável de meninos que estão chegando hoje à idade adulta foi tratado como se esta diferença não fosse importante. A eles foram negados brinquedos masculinos, tais como armas de plástico e soldadinhos de brinquedo, e suas formas masculinas de diversão – como, por exemplo, brigas – foram banidas. 

De tal forma, nossa atual sociedade está toda encardida com os prejuízos dos meninos que nunca aprenderam a ser fortes. Como resultado, esses mesmos, hoje, não têm amigos fora da realidade virtual, fogem apavorados do casamento, morrem de medo de ter filhos, esquivam-se de conhecer bem a matemática ou estudar a língua portuguesa e escondem-se na internet ou na casa das mães até os 40 anos.

Em contraponto, homens fortes transformam o mundo em que vivem. Eles começam e terminam um trabalho. Eles movem coisas pesadas. Eles constroem estruturas que duram anos. Eles estudam com afinco. Eles fazem todas as coisas assustadoras, feias e sujas que as mulheres não conseguem, não podem ou não precisam fazer. E este é, provavelmente, o tipo de marido que queremos para nossas filhas.

*Professor do curso de Administração da Unisinos

Fonte: ZERO HORA

Rafael Vitola Brodbeck

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